quarta-feira, janeiro 30

oporto revisited

estou sentada a fazer letras e tempo
enquanto penso no álvaro de campos
e na pulsão erótica que me suscita.

a mim também me querem
quotidiana e fútil e tributável.
mas ao que dizem os indícios perdi
num dia manco toda a minha lucidez.

é isto que apreendo:
factos, horários e tributações.
a minha alma está em estado burocrático
e as lentes são escassas para tanta miopia.

a existência, afinal, não pode ser graduável:
os seus desvios, inclinações e meteorologias.
com quantas leis farei uma mentira?

estou parada há muitos anos
a olhar para mim
mas o que mais sinto é velocidade.

pairo sobre a relatividade do tempo
e sou cuspida, constantemente, para cima de mim.
sou sempre muito depois. dissocio-me. estrangeiro-me.
onde bastará para me bastar?

não conheço medidas, toda eu sou tamanho.

sei, no entanto, que nunca bastei de me bastar.
tenho tamanho a menos para tanto de mim
e quem me percorre é veloz,
para trás ficam apenas
restos mortais e alguma ferrugem.

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei muito :-)

Kantianos