quarta-feira, março 3

o que havia de te dizer naquele instante, tão ínfimo instante,

desdobrado sobre a infame razão do amor. 

ah, o amor, quem diria. o amor, 

a guerra, tudo o que servisse para adiar a morte. 

eras tu a mais imperfeita razão para ficar numa trincheira

a aguardar capitulação. 

tudo em ti era feito de espera e de explosões. 

e eu à escuta, à espreita,

a deter-me na passagem do tempo, 

surpeendida com o vidro 

que arranha e corta

ou com o hibisco que sonha também contigo

durante a noite. 

ossos, primeiro ossos, 

depois sangue e alguma carne.

a função espiritual dos meus olhos:

ver-te era o princípio e o fim e a razão de estar vencida. 

ossos, primeiro ossos, depois um coração para oferecer às balas 

e dois pulmões a guardar o teu mais recôndito cheiro.

matéria composta para o amor e para a guerra: 

o corpo como a primeira pessoa do discurso direto. 


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