não sei se o que me falta é luz
ou paisagem
talvez um rosto de criança
que me levasse sem para trás e sem vergonha.
até à morte.
talvez seja a ausência da música no modo como nos tocamos
a parecer o tempo que morre
e sopra frio sobre o coração.
sento-me em frente ao espelho
o meu rosto olha-me de fora para dentro
até ser ele só que me pensa
uma aquietada modelo
que todos vissem
cénica e nua a servir a arte
um pouco assim como as bruxas
e também muitas putas
que depois de retratadas
davam santas de altar e matriz.
eu também dispo e visto,
e sei usar os gestos da civilização ocidental
para sair à rua e dizer que sim
mas desconheço a beatificação,
aquele modo antigo e seguro de caminhar
feito de recato e pai nosso
aquele mesmo modo
de quem sabia que enfim nos perdoa
o tempo
destas horas que um ao outro emprestamos
para sermos impuros
e uma outra vez
fugirmos à morte.
1 comentário:
Genial...
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