«Queria que do meu estudo resultasse um gráfico - um único gráfico que resumisse, que permitisse estabelecer uma relação entre o horror e o tempo. Perceber se o horror está a diminuir ao longo dos tempos ou a aumentar. Se é estável. Repara que descobrir que o horror tem uma certa estabilidade histórica, que mantém certos valores, digamos, de cinco em cinco séculos, se conseguir encontrar uma regularidade, estarei perante uma descoberta fundamental.»
Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
«L.F.Richardson foi um meteorologista britânico que se interessou pelo fenómeno da guerra, cujas causas desejou compreender. Existem paralelos intelectuais entre a guerra e o clima: são uma como o outro complexos, uma como o outro revelam alguma regularidade, o que significa que não são forças implacáveis, mas sistemas naturais que podem ser compreendidos e dominados. Para entender o clima do nosso globo, para estudar o seu comportamento, em primeiro lugar é necessário reunir grandes quantidades de dados meteorológicos. Ora segundo Richardson, temos de abordar do mesmo modo o fenómeno da guerra, se bem o quisermos entender. Assim, procedeu à recolha da dados sobre as centenas de guerras ocorridas no nosso pobre planeta, entre 1820 e 1945.»
Cosmos, Carl Sagan
«Chegando ao gráfico do horror distribuído pelo tempo poderia então começar a pensar em algo mais importante: a fórmula. Uma fórmula numérica, objectiva, humana poderia mesmo dizer, não animalesca, não sujeita a flutuações de sentimentos ou de ânimo, uma fórmula puramente matemática, puramente quantitativa, serena, diria, uma fórmula serena.»
Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
«Os resultados de Richardson foram publicados a título póstumo num livro chamado The Statistics of Deadly Qarrels. O autor, para determinar o lapso de tempo que se escoará antes que uma guerra cause um dado número de vítimas, definiu o índice M, magnitude de uma guerra, ou medido do número de mortes imediatas que esta provocará. Uma guerra da magnitude M=3 será uma simples escaramuça, que matará apenas mil pessoas. (...) Richardson descobriu que quanto mais pessoas morriam durante uma guerra, menos provável esta seria e mais longo seria o intervalo de tempo a decorrer até ela acontecer, assim como as tempestades violentas são menos frequentes que os simples aguaceiros.»
Cosmos, Carl Sagan
Mas não procuro apenas a fórmula que resumas os efeitos do horror, que resuma aquilo que o horror fez no passado; pretendo ainda alcançar uma outra fórmula; uma fórmula que permita prever, que permita agir e não apenas contemplar ou lamentar.
Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
«Richardson adianta que se prolongarmos a curva até aos pequenos valores de M, até M==, podemos prever a incidência dos assassinatos cometidos no mundo inteiro: algures no mundo, de cinco em cinco minutos é assassinada uma pessoa. Segundo ele, assassinatos individuais e guerras de maior escala são dois extremos de uma continuidade, duma curva ininterrupta.»
Cosmos, Carl Sagan
«No entanto, tenho um medo, um medo ainda maior do que o de perceber o estado clínico da História piora de dia para dia ou de século para século, medo ainda maior do que chegar a resultados que mostrem que a intensidade da relação horror/tempo tem vindo a aumentar; (...) o grande medo é, então, (...)que o gráfico revele uma estabilidade, uma estabilidade assustadora, uma constância do horror no tempo, uma manutenção da normalidade do horror que termine por completo com qualquer esperança. A curva visível nos três primeiros séculos depois de Cristo a repetir-se a cada três séculos: é desta repetição das curvas, é deste tédio que mais receio tenho.»
Jerusalém, Gonçalo M. Tavares
Richardson's representation of the number of conflicts of each magnitude compared with the number that died in each. (From Statistics of Deadly Quarrels)
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