...fui empurrando a minha história, equacionando uma álgebra tropical, ardente como nas origens (sangue e areia), uma operação perfeita para não dispensar os valores positivos da pilantra, mas que não prescindia jamais, por outro lado, dos meus valores negativos (ou da «mão amiga dos assassinos»): «já disse que a margem foi um dia meu tormento, a margem agora é a minha graça, rechaçado quando quis participar, o mundo hoje que se estrepe!caiam cidades, sofram povos, cesse a liberdade e avida, quando o re de marfim está em perigo, que importa a carne e o sosso das irmãs e das mães e das crianças? nada pesa na alma que lá longe estejam morrendo filhos...» «há-há-há...ele perdeu as estribeiras...há-há-há...delinquente!« «...que tudo venha abaixo, eu estarei de costas; ao absurdo, com a loucura, e nem podia ser outra a resposta; é amarga, sim, mas no mínimo adequada, e isto não depende do teu decreto, pois desde já é fácil prever o teu futuro:além de jornalista exímia, você preenche brilhantemente os requisitos como membro da polícia feminina; aliás, no abuso do poder, não vejo diferença entre um redator-chefe e um chefe de polícia, como de resto não há diferença entre dono de jornal e dono de governo, em conluio, um e outro, com donos de outros gêneros» «não é comigo, solene delinquente, mas com o povo que você há de se ver um dia» «pensem pilantra, uma vez sequer nessa evidência, ainda que isso seja estranho ao teu folclore, ainda que a disciplina das tuas orelhas não se preste a tanta dissonância: o povo nunca chegará ao poder!» « louquinho da aldeia!...entrou de vez em convulsão, sabe-se lá o que ainda vem desse transe paroxístico...»
um copo de cólera, raduan nassar, p. 46-47, relógio de água
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